Graninha extra!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Histórias da vida.

Tive uma bisavó, Josefina, que era, na verdade, mãe de criação de minha avó. A “Dinda”, como eu a chamava, nunca havia tido filhos. Morava com o marido e com minha avó em uma fazenda.
Quando minha avó se casou, o marido de Dinda faleceu. Deu-se então que Dinda foi morar com meu avô e minha avó. Me lembro que ela era muito dedicada com os serviços domésticos, lavava tudo, cozinhava muito bem e não deixava que ninguém a ajudasse. Era uma boa pessoa, apesar de educar com certa frieza minha avó – o que rendeu e ainda rendem várias histórias de palmadas e situações constrangedoras que minha avó conta.

O tempo foi passando e Dinda foi envelhecendo. Até que chegou ao ponto de não nos reconhecer mais, de não andar e nem comer sozinha. Toda vez em que eu e minha família visitávamos meus avós, a primeira coisa que eu fazia era passar no quarto da Dinda e dizer: “Oi Dindinha”, ao que ela respondia “Hein?” e eu repetia o cumprimento, falava meu nome e pedia a benção. Ás vezes ela me reconhecia, ás vezes não, mas sempre dava a benção.



Incrivelmente, talvez por esse costume meu, antes de falecer, minha avó me disse que ela falara muito em meu nome, perguntara muito de mim. Mas como ela estava com a cabeça um pouco atrapalhada, ela falava como se eu ainda fosse um bebê. Minha avó então comprou-lhe uma boneca. Ela cuidava e ninava essa boneca como se fosse eu.


Lembro de uma vez em que a peguei fazendo carinho na boneca. Perguntei : “Dinda, quem é esse bebê que a senhora tanto faz carinho?”, e ela respondeu: “É a Vanessinha, olha que lindinha...ela não sabe, mas é um anjo. Um anjinho que veio para trazer muita alegria pras pessoas” – e tascou um beijo na testa da boneca.

Eu sorri, agradecida, passei a mão nos cachinhos brancos dela e saí do quarto.
Hoje parei pra pensar nela e me lembrei desta e de outras coisas, e talvez pelo fato de ela ter dito o que disse, inconscientemente eu esteja sempre procurando uma forma de fazer as pessoas sorrirem, sempre!
Até hoje, quando vou visitar meus avós, passo no quarto da Dinda e digo: “Oi Dindinha!"


“Obrigada! Quero que a senhora saiba que eu estou fazendo o possível para cumprir o meu papel.”

4 comentários:

  1. Amei!!! Fiquei sem palavras, que coisa linda de se ler! Super beijos!

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  2. Que lindo Vanessa! deu até um nó na garganta e confesso que até algumas lagrimas

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  3. sério... isso foi lindo demais!
    vc tem muita luz Nessa, qualquer pessoa q te conhece vê que a Dindinha tava certa!

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  4. Assim fico sem jeito.
    Valeu mesmo, gente! Obrigada.

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