Graninha extra!

domingo, 3 de outubro de 2010

Histórias da vida II.

Beleza interior é coisa de arquiteto.

"Filha, agora que você já virou uma mulher, temos que ir ao ginecologista para ver se está tudo bem, ok?"

Céus! Desespero.

-Tá... contanto que seja UMA ginecologista – disse eu.

-Não, filha, vou te levar no Dr. Aroldo, que é o ginecologista da mamãe e fez seu parto. Fique tranqüila que ele já viu sua pererequinha antes mesmo de você nascer! – disse ela, toda risonha.

Engraçado. Muito engraçado. Como se ver minhas intimidades fosse atração de circo ou a coisa mais natural do mundo.

Ela continua:
-E daqui pra frente, pelo menos uma vez por ano, você vai. Sem desculpas. – disse-me, com olhar fuzilador.

Assenti com a cabeça, desejando que ela sofresse uma amnésia permanente ou ficasse muda. Ou as duas coisas, de preferência.
Marquei por telefone mesmo, numa terça á tarde.
Ela foi comigo, lógico. Faz questão de me ver nas situações mais embaraçosas pra depois espalhar pra família toda.

[Flashback: Menarca. Chego em casa desesperada, achando que tinha dado uma “freada” nas calças. Minha mãe, toda emocionada, me dá a notícia de que fiquei “mocinha”. Peço pra ela, morrendo de vergonha de mim mesma, que não contasse pra ninguém. No dia seguinte Churrasco pra comemorar, abraços e beijos. Muita emoção.]

Cheguei na clínica.
Sentei e enfiei as fuças na primeira revista que eu vi, para me esconder. De repente, ouço meu nome! - Vou me fingir de surda - pensei. Mal concluí o pensamento e minha mãe me puxa pelo braço:

-Levanta menina, é sua vez! Não ouviu ele te chamar, não? Larga essa revista!

Rosnei, mas larguei.
Eis que o tal do Aroldo surge.

-Sente-se Vanessa. Vou começar com algumas perguntinhas ta?

-Ta. – respondi.

Caralho! Porque não ia direto ao ponto e acabava logo com aquilo?
Mas ok, perguntinhas, o que tem de mal, né?

- Você já iniciou a sua vida sexual?
- Ahn...sim.
- Com seu namorado?
- Er...n-não.
- Com quantas pessoas você se relacionou nos últimos três meses?

Como assim, QUANTAS PESSOAS?
Olhei pra minha mãe com sangue no zói - vou assassinar esse cara - mas minha querida mãe, sempre muito delicada, respondeu:

-Não doutor, ela não tem namorado. Transou com um rolinho dela! Sabe como é essa juventude Né? Toda moderninha...

Rolinho. ROLINHO!? Que porra é essa? Rolinho de papel higiênico, rolinho de fita adesiva? Que porra é essa, mãe?

-Sim, sei como é – disse ele, segurando o riso - bom Vanessa, agora a senhorita vá até o banheiro, tire toda a roupa e vista a camisola que está atrás da porta.

-Tá.

Aliás, camisola que quase não encontrei de tão transparente. Seria mais fácil ir para lá do jeito que vim ao mundo, mas ok, coloquei, respirei fundo e saí do banheiro parecendo ema, doida pra enfiar a cabeça na terra.
A primeira coisa que eu vi, foi a CADEIRA.


A CADEIRA.
CADEIRA, CADEIRA, CADEIRA... Fiquei repetindo aquilo como um mantra, pra ver se ela desaparecia, explodia, derretia, voava e caía na cabeça do Aroldo, sei lá, qualquer coisa.

-Pode se sentar, querida.

CADEIRA, CADEIRA, CADEIRA...fiquei olhando pra ela com cara de cu.

-Vanessa?
-Ah...sim, sentar.
-Isso. Agora coloca uma perna AQUI e a outra ALI.

Olhei para minha mãe, implorando por misericórdia. Implorando pra que ela dissesse praquele Aroldo que eu nunca houvera feito balé ou ginástica olímpica, de modo que seria impossível fazer aquela abertura. Ela me olhava de um jeito que não consegui definir: uma mistura de dó com deboche. Desisti de estabelecer uma comunicação visual.

-Bom, vou passar esse gelzinho aqui, ó – Ele pegou um potinho e me mostrou - porque normalmente as mulheres ficam muito nervosas com o primeiro exame, e acabam perdendo a lubrificação natural. Certo?

Opa, doutor! Supimpa! Estou fazendo uma abertura, nua, na sua cara, e você vai passar gel na minha “periquita”, claro que tá certo, oras! E nervosa é a senhora sua avó! Porque você não passa gelzinho nela também?

-Ah sim, tudo bem.
-Agora relaxa tá?

Até que relaxei...até que foi bem agradável. Geladinho, gostosinho. Ui.
Cheguei a pensar que esse exame não era tão ruim assim...

-Bom, agora eu vou colocar esse aparelhinho aqui...
-Vai colocar O QUÊ???
-Calma, não vai doer nada. Depois que ele estiver lá dentro, eu vou abrir.
-Vai abrir LÁ DENTRO???
-Sim, mas vou abrindo aos poucos, até onde você aguentar. Aí você fala para eu parar, e eu...
-Então pode PARAR! Nem começa!

O Aroldo olhou para minha mãe, não entendendo nada. Olhei pra ela também; Ela estava séria. Não tinha gostado da brincadeira.

-Hahaha - ri, besta que sou - faz isso logo, por favor.

Foi até que bem agradável, até a hora de ABRIR. Na primeira “abertura”, achei que meus olhos tinham saltado da cara!

-Vejamos... hum, vou ter que abrir mais um pouquinho, ok?

Balbuciei algo do tipo “fidumapfff” e segurei nas laterais daquela CADEIRA. Fiquei com os olhos bem abertos dessa vez, para que eles realmente saltassem, batessem na cabeça do tal Aroldo e o matassem!

-Agora sim. Ah! Olha só o que temos aqui!

Ah olha só! Olha o que temos aqui, venham todos ver, olhem o que temos! O que será, meu Deus? Um útero? Um bebê? Um real?

- Você tem um pequeno machucado, causado pela fricção, mas não é nada para se preocupar. Vou receitar uma pomadinha e também um anti-concepcional adequado. E olha, tenho uma boa e uma má notícia, qual você quer primeiro?

- Me dá a boa, por favor!

- Bom, na verdade a notícia é boa e é ruim, depende de como você encarar. Mas é o seguinte: o seu hímen está praticamente intacto, ou seja, você tem o hímen complacente.

- Compla o quê?

- Complacente, quer dizer que você só perderá a virgindade quando for mãe, ou se quiser operar.

- Ah...

- E isso não é muito bom porque toda a vez que você tiver uma relação, pode doer e sangrar, como se fosse a primeira vez.

- Ah...

- A parte boa é que você faz parte de uma porcentagem mínima de mulheres que ainda podem se sentir como na primeira vez quase todas as vezes.

- Ah...

Dei um sorriso amarelo e fui pra casa, sem entender a parte boa da notícia boa.
E fiquei imaginando, numa roda de amigos falando sobre suas experiências sexuais, alguém me perguntando: “e aí Vanessa, você é virgem?”, e eu respondendo:


“Não. Sou complacente. Muito mais chique.”

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